Discussões ocorrem na esteira da decisão da União Europeia, em 2022, de proibir carros com motor a combustão em 2035. Carro elétrico é carregado em rua de Londres.Kirsty Wigglesworth/APUma mudança repentina de direção política nas próximas eleições europeias poderia colocar em xeque a difícil e custosa transição para o carro elétrico.A União Europeia tomou a histórica decisão em 2022 de proibir os carros com motor a combustão em 2035.Isso significa deixar todo o mercado para os automóveis com baterias elétricas ou que funcionam com hidrogênio, com o objetivo de eliminar a fonte de geração de CO2 em 15% do total na UE. Para seus críticos, esse regulamento põe em risco a indústria europeia, líder em motores a combustão, diante das importações da China, que se tornou líder em veículos elétricos. Também limita o acesso dos motoristas a veículos novos, já que os modelos elétricos continuam sendo muito mais caros.LEIA TAMBÉMCarros elétricos mais acessíveis no Brasil? Entenda as perspectivas do setorRecorde de investimentos: o que reacendeu o ânimo das montadoras no BrasilMercado de luxo em alta: Brasil tem mais de 90 carros a partir de R$ 500 mil; veja a listaO cancelamento do prazo limite de 2035 se tornou um tema essencial da agenda política dos partidos de extrema direita.O grupo CRE, que inclui Fratelli d'Italia e Vox da Espanha, insiste em seu programa no qual "o motor de combustão é um testemunho da criatividade europeia" e deveria continuar sendo "viável durante muitos anos mais", com novos investimentos em pesquisa, especialmente em combustíveis "de baixas emissões".Outro grupo de extrema direita, Identidade e Democracia — Reagrupamento Nacional (RN) na França, Alternativa para a Alemanha (AfD), Liga na Itália —, também combate o que descreve como uma "medida discriminatória e de exclusão social".As críticas também provêm do partido majoritário em fim de mandato, o Partido Popular Europeu (PPE).Os partidos alemães da coalizão, CDU e CSU, gostariam de cancelar o ano de 2035 para que os consumidores possam continuar se beneficiando da "tecnologia de vanguarda alemã dos motores de combustão".Mas, a nível europeu, onde aparece como favorito nas pesquisas, o PPE não incluiu esse cancelamento em seu programa.Da saída da Ford ao recorde de investimentos: o que reacendeu o ânimo das montadoras no BrasilA líder da lista do partido, Ursula von der Leyen, foi quem conseguiu impor essa proibição no âmbito do "Pacto Verde" europeu, um ambicioso pacote legislativo que deve permitir à UE alcançar seus objetivos climáticos."Seria surpreendente se a comissão que implementou o Pacto Verde desse marcha à ré, mas existem riscos sobre sua implementação", comenta Diane Strauss, da ONG Transport & Environment.A indústria automotiva, que representa mais de 12 milhões de empregos na Europa, já iniciou a mudança para os veículos elétricos.Após anos de combate, o lobby dos fabricantes em Bruxelas, a ACEA, garante que respeitará o Pacto Verde europeu.Os lançamentos de carros 100% elétricos estão se multiplicando e sua cota de mercado aumentou consideravelmente, embora tenha diminuído um pouco desde o fim de 2023.Os fabricantes já são obrigados a reduzir as emissões de seus veículos na atualidade, sob pena de fortes multas.Mas um prazo adicional seria bem-vindo, indicou, em fevereiro, o presidente da ACEA e diretor-executivo da Renault, Luca de Meo."Espero que a proibição entre em vigor um pouco mais tarde, porque acho que não seremos capazes de fazê-lo sem prejudicar toda a indústria e toda a cadeia de produção do automóvel europeu", disse ele à AFP.A Stellantis, número dois do setor na Europa, está "muito atenta ao resultado das eleições nos Estados Unidos e na Europa", destacou seu diretor-geral, Carlos Tavares, no final de janeiro.Tavares esboçou dois cenários: uma "aceleração dos carros elétricos" caso os "progressistas dogmáticos" ganhem ou um "retrocesso dos carros elétricos" se os "populistas" vencerem.Segundo Diane Strauss, o sucesso da proibição em 2035 depende de vários fatores, como a implementação da rede de estações de carga elétrica ou a redução do preço dos carros, por exemplo, através de um "leasing europeu"."Um Parlamento muito contrário à eletromobilidade poderia atrasar a implementação de todos os fatores necessários para o sucesso desse projeto", disse.Uma "cláusula de revisão" já está prevista em 2026, para fazer uma primeira avaliação da eletrificação.Ela não implica uma nova votação sobre a data limite, mas poderia reforçar ajustes, alguns dos quais já foram esboçados.Em 2023, o ministro dos Transportes da Alemanha, o liberal Volker Wissing, ameaçou fazer fracassar o prazo de 2035, exigindo uma exceção para "combustíveis neutros em emissões".Esses combustíveis sintéticos, ainda muito energéticos e custosos, deveriam ser reservados prioritariamente para a aviação, mas fabricantes como Porsche, Stellantis e Renault também os estão explorando para os automóveis.